"Existem diferentes fatores genéticos e fisiológicos no sono que contribuem para criar um ambiente propício à insônia."

Os números são alarmantes: quase 70% dos franceses relatam ter problemas de sono, de acordo com os dados mais recentes da pesquisa CoviPrev, da Saúde Pública Francesa (SPF), realizada desde março de 2020. Isso representa 20 pontos a mais do que antes do início da pandemia de Covid-19. Embora a insônia seja a condição mais comum, outros distúrbios mais raros são tratados em centros especializados, como o do Hospital Croix-Rousse, em Lyon.
O problema não é novo. Nos últimos cinquenta anos, os franceses perderam entre uma hora e uma hora e meia de sono, com uma média de seis horas e quarenta e dois minutos durante a semana. Em 2017, segundo a pesquisa da SPF, menos do que as sete horas recomendadas, duração que varia de pessoa para pessoa. Essa tendência de queda é ainda mais acentuada entre os adolescentes e também afeta as crianças. O Inserm já falava em 2019 desse "flagelo das sociedades modernas". A escritora Marie Darrieussecq fala, em seu último romance, Pas dormir. (POL, 320 páginas), de suas "noites vazias". Especialistas vêm alertando há anos sobre essa "epidemia catastrófica de perda de sono".
"O consumo excessivo de mídia, em um contexto de mensagens que induzem à ansiedade, não ajuda em nada, assim como o impacto negativo do ruído e da luz. Mas, acima de tudo, o tempo gasto em frente às telas reduz o tempo de sono e degrada sua qualidade", explica Damien Léger, chefe do Centro de Sono e Vigilância do Hôtel-Dieu (AP-HP). Essa tendência também pode ser explicada pelo aumento do número de trabalhadores noturnos, do tempo de deslocamento, da carga de trabalho e do estresse. Como resultado, 30% dos franceses dormem menos de seis horas a cada 24 horas e, portanto, sofrem de débito de sono.
No entanto, sabemos que esse déficit tem efeitos deletérios à saúde e aumenta o risco de doenças cardiovasculares (pressão alta, infarto, derrame, etc.) e distúrbios metabólicos (obesidade, diabetes tipo 2, etc.). Além do impacto na qualidade de vida, os distúrbios do sono têm múltiplas consequências, incluindo pensamentos suicidas, absenteísmo e acidentes de trânsito. Por outro lado, dormir o suficiente também desempenha um papel na imunidade, nas funções cognitivas, na concentração, na aprendizagem e na memorização.
Entre os distúrbios do sono, a insônia é o mais comum, afetando aproximadamente 30% das pessoas. Para 10%, é crônica, ou seja, os problemas ocorrem pelo menos três vezes por semana durante pelo menos três meses, com repercussões no dia seguinte.
O tratamento varia muito dependendo do tipo de doença, mas em todos os casos são lembradas regras de higiene, como dormir e acordar em horários regulares, evitar a privação do sono, tornar o ambiente seguro para noites agitadas, etc. Outras doenças podem causar fadiga, como disfunção da tireoide, ansiedade, depressão, etc.
Para tratar a insônia, recomenda-se a terapia cognitivo-comportamental (TCC), com eficácia amplamente demonstrada, inclusive online. Também são oferecidos tratamentos medicamentosos (benzodiazepínicos, hipnóticos, como Stilnox e Imovane), que devem ser administrados apenas por curtos períodos. Já comercializados em outros países, outros hipnóticos, antagonistas dos receptores de orexina, "podem ser usados para insônia grave", explica Damien Léger.
Além da insônia e dos distúrbios respiratórios, incluindo a apneia do sono, a classificação internacional também lista a hipersonolência (incluindo a hipersonia idiopática ou narcolepsia, uma doença autoimune rara), que afeta cerca de 8% da população, distúrbios do ritmo sono-vigília, distúrbios motores relacionados ao sono (síndrome das pernas inquietas, por exemplo) e parassonias do sono profundo de ondas lentas, como sonambulismo, terrores noturnos, despertares confusionais, alucinações sensoriais ou paralisia do sono (você acorda por alguns segundos sem conseguir se mover, o que é muito angustiante).
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